Mistura incomum de características revela réptil marinho com estilo de caça único e com origem no noroeste do Pacífico

Mistura incomum de características revela réptil marinho com estilo de caça único e com origem no noroeste do Pacífico
Após quase quatro décadas de estudo, fósseis encontrados em 1988 na Ilha de Vancouver, no Canadá, foram formalmente identificados como pertencentes a uma nova espécie de réptil marinho do período Cretáceo.
O animal, chamado Traskasaura sandrae, é um elasmossauro – grupo de plesiossauros conhecidos por seus longos pescoços e presença marcante na paleontologia da América do Norte.
Medindo cerca de 12 metros, o Traskasaura sandrae possuía dentes robustos, afiados e pesados, ideais para esmagar suas presas, provavelmente amonites — moluscos cefalópodes com conchas espiraladas abundantes na região há 85 milhões de anos. A descoberta foi publicada na revista científica “Journal of Systematic Palaeontology”, destacando a estranha combinação de características primitivas e evoluídas que tornam essa espécie única entre os elasmossauros.
O primeiro fóssil do animal foi desenterrado às margens do rio Puntledge, na Ilha de Vancouver, em rochas do Cretáceo Superior. Desde então, partes de pelo menos três indivíduos foram recuperadas, incluindo um esqueleto de um animal jovem notavelmente bem preservado, que foi fundamental para a identificação precisa da espécie.
Um dos aspectos mais surpreendentes da anatomia do Traskasaura é sua estrutura incomum dos ombros, que se abre para baixo — uma característica inédita entre os plesiossauros conhecidos. Além disso, o pescoço extremamente longo, com ao menos 36 vértebras cervicais preservadas e possivelmente mais de 50 ossos, conferia ao animal habilidades específicas para caçar.
Segundo o professor F. Robin O’Keefe, paleontólogo da Marshall University e autor principal do estudo, essa espécie possuía uma capacidade destacada de nadar para baixo, o que sugere um estilo de caça incomum para plesiossauros: atacar suas presas mergulhando sobre elas de cima para baixo, ao contrário da maioria dos répteis marinhos que caçam olhando para cima em direção à luz da superfície.
Os movimentos das nadadeiras do Traskasaura também são notáveis. Com formato semelhante a asas de avião invertidas, com a superfície mais curva voltada para baixo, elas auxiliavam no movimento de subida durante os mergulhos, facilitando essa estratégia de caça.
Os fósseis, que por muito tempo permaneceram um enigma para a comunidade científica, foram tema de intensa investigação internacional envolvendo pesquisadores do Canadá, Estados Unidos e Chile. A análise do esqueleto jovem, recentemente descoberto, foi crucial para confirmar as características estranhas observadas no exemplar adulto, permitindo finalmente a criação de um novo gênero e espécie.
O nome Traskasaura homenageia Michael e Heather Trask, casal que descobriu o fóssil em 1988, enquanto que a espécie sandrae é uma dedicatória a Sandra Lee O’Keefe, uma guerreira contra o câncer de mama, em memória à sua luta.
Apesar do tamanho imponente, o Traskasaura provavelmente não era o topo da cadeia alimentar. Espécies maiores, como os mosassauros, podiam representar ameaça para ele. A espécie, assim como todos os dinossauros, desapareceu na grande extinção em massa há cerca de 66 milhões de anos, causada por um asteroide.
A popularidade dos fósseis aumentou após sua adoção pela província da Colúmbia Britânica como símbolo oficial, o chamado “Fóssil Provincial”, escolha feita em 2018 por meio de votação pública, na qual o elasmossauro obteve 48% dos votos.
Atualmente, os fósseis do Traskasaura sandrae estão em exibição no Museu e Centro de Paleontologia de Courtenay, na Ilha de Vancouver, onde atraem público e estudiosos interessados na fauna marinha da era dos dinossauros.
O professor O’Keefe ressalta que a região, conhecida hoje por sua rica vida marinha, foi palco de criaturas fascinantes e estranhas que habitaram os oceanos ao lado dos dinossauros.