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Derrocada: Esquerda portuguesa teve pior resultado desde 1987

Partidos de centro-direita e de direita levaram ampla vantagem no pleito

Um dia depois da terceira eleição legislativa em três anos, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, vai convocar os líderes dos partidos para consultas. O pleito não mudou o primeiro-ministro, já que Luís Montenegro segue no cargo em um governo minoritário, mas mostrou um avanço ainda maior do Chega, de direita, e o pior resultado para o Partido Socialista desde 1987.

A coligação Aliança Democrática (AD), de centro-direita, conquistou 89 cadeiras na Assembleia Nacional, que tem 230 assentos. Apesar da vitória, a coligação de Montenegro ficou muito longe de uma maioria parlamentar e o primeiro-ministro segue vulnerável aos partidos de oposição que derrubaram seu governo em março, após menos de um ano no poder.

– Os portugueses não querem mais eleições antecipadas. Todos nós precisamos ser capazes de falar uns com os outros e colocar o interesse nacional em primeiro lugar – disse Montenegro, na noite deste domingo (18), em um apelo aos partidos de oposição para que o deixassem cumprir um mandato completo de quatro anos.

A coligação de Montenegro poderia fazer um acordo com o Chega para formar uma maioria, mas o primeiro-ministro reiterou o seu compromisso de não formar um governo com o partido da direita.

Os portugueses foram chamados às urnas após Montenegro perder a confiança do Parlamento em março, devido a crescentes dúvidas sobre as atividades comerciais de sua família.

O início da crise política começou com uma denúncia envolvendo uma empresa de consultoria chamada Spinumviva, que é da família de Montenegro. A companhia teria recebido pagamentos de um grupo de cassinos, o que gerou dúvidas sobre possíveis conflitos de interesse devido à posição de Montenegro. O primeiro-ministro negou as acusações e disse que vendeu sua parte da empresa à sua esposa.

O resultado do Chega quebrou com o domínio dos partidos tradicionais, em uma tendência semelhante ao que ocorreu com legendas da direita na França, Itália e Alemanha.

Nos últimos 50 anos, os Sociais-Democratas e o Partido Socialista, têm alternado o poder em Portugal.

O Chega conquistou o mesmo número de assentos que os Socialistas – 58 – e ainda pode conquistar o segundo lugar quando os quatro assentos restantes, decididos por eleitores que moram fora de Portugal, forem atribuídos nos próximos dias.

– O sistema bipartidário acabou – disse Ventura, que atuou como advogado e comentarista de futebol antes de entrar na política.

O Chega disputou sua primeira eleição há apenas seis anos, quando conquistou uma cadeira, e se alimentou da insatisfação com os partidos tradicionais mais moderados.

Com o slogan “Salve Portugal”, o partido se descreve como uma legenda nacionalista e tem se concentrado em conter a imigração e combater a corrupção, que tem contribuído com a ascensão do Chega, devido a vários escândalos envolvendo políticos tradicionais nos últimos anos.

CRISE NA ESQUERDA

A legenda que saiu mais enfraquecida do pleito foi o Partido Socialista, que teve o seu pior resultado desde 1987. O líder da legenda, Pedro Nuno Santos, renunciou ao cargo e uma nova liderança deve assumir para o próximo período legislativo.

O partido tinha 78 cadeiras no último Parlamento, o mesmo número da Aliança Democrática (AD), mas conseguiu apenas 58 nas últimas eleições, o mesmo número do Chega.

O número exato de cadeiras de cada partido ainda não é definitivo, dependendo dos votos de portugueses no exterior. Esses votos irão definir qual será a segunda maior bancada do Parlamento.

Outros partidos de esquerda também perderam votos. O Bloco de Esquerda tinha cinco cadeiras no último Parlamento e nestas eleições conquistou apenas uma. Já a Coligação Democrática Unitária, formada pelo Partido Comunista Português e o Partido Ecologista, caiu de quatro para três cadeiras.