Danilo Gentili comenta condenação de Leo Lins: “Piadas não matam ninguém”

Apresentador acusa sistema de censura e diz que decisão contra o humor ‘passou dos limites’

Durante o The Noite desta terça-feira (3), o apresentador Danilo Gentili criticou a decisão da Justiça Federal que condenou o humorista Leo Lins a oito anos e três meses de prisão em regime fechado. A sentença, emitida pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, também impôs uma multa de R$ 1,4 milhão, além de R$ 300 mil por danos morais coletivos.

O humorista foi condenado por declarações consideradas preconceituosas feitas durante uma apresentação de stand-up. Segundo a decisão, esse tipo de conteúdo favorece a disseminação da violência verbal e estimula atitudes intolerantes. O documento afirma que “atividades artísticas de humor não constituem ‘passe livre’ para o cometimento de crimes” e que a liberdade de expressão “não é pretexto para o proferimento de comentários odiosos, preconceituosos e discriminatórios”.

Ainda segundo o texto, “o exercício da liberdade de expressão não é absoluto nem ilimitado, devendo ocorrer dentro de um campo de tolerância, sujeitando-se às restrições previstas na própria lei”. E conclui: “No caso de confronto entre o preceito fundamental da liberdade de expressão e os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica, devem prevalecer estes últimos.”

No programa, Danilo Gentili reagiu à decisão com um discurso em defesa do comediante. “Qual foi o crime do comediante Leo Lins? Contar piadas em um show de humor. Esse show foi posteriormente postado no YouTube e, ao que tudo indica, isso foi considerado um crime”, declarou. Em outro trecho, ele questionou os fundamentos jurídicos utilizados: “A decisão contra o Leo usa, entre outros fundamentos, dois argumentos que são, no mínimo, duvidosos. […] Um desses argumentos seria o de que a liberdade de expressão não pode ser irrestrita. Ora, mas liberdade de expressão só pode ser irrestrita.”

Segundo Gentili, o humor “é baseado em fantasia, em ficção, em exagero” e não deve ser associado a crimes. Ele afirmou que “piadas não geram intolerância, não geram preconceito”, e defendeu que a liberdade de se fazer humor precisa ser protegida. “Na minha carreira, eu cansei de responder à pergunta ‘qual é o limite do humor?’ […] Porque, na hora em que oficialmente limitarem o humor, como estão fazendo agora, a próxima pergunta vai ser: qual é o limite do funk? Qual é o limite da novela? Qual é o limite da poesia?”

O apresentador do SBT encerrou seu posicionamento com um alerta sobre os riscos à liberdade de expressão: “Hoje é o comediante Leo Lins que está sendo condenado à prisão, que está sendo condenado a uma multa milionária. […] Amanhã será o seu portal, jornalista. Será o seu vídeo no YouTube. Amanhã, o que você diz hoje pode ser considerado um pensamento antidemocrático.”