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Bebê reborn: terapeuta cristã faz alerta sobre fenômeno

Os chamados bebê reborn — bonecos hiper-realistas que simulam bebês nos traços, peso e até temperatura corporal — têm ganhado espaço no debate público. Utilizadas por adultos em diferentes contextos, inclusive no Brasil, essas bonecas levantam questionamentos sobre saúde mental, práticas terapêuticas e desafios jurídicos.

De acordo com artesãos do setor, os preços variam entre R$ 1.500 e R$ 15 mil, conforme o nível de personalização. Em diversos casos, os objetos são tratados como filhos por seus proprietários.

A terapeuta cristã Patrícia Cunha, integrante da liderança da Igreja Brasas Vivas, em Santa Catarina, avalia que o fenômeno revela “vazios emocionais não resolvidos”. Em entrevista, ela compartilhou seu testemunho pessoal sobre o luto vivido há 19 anos, após a perda de um filho:

“Nenhuma boneca substitui um ser humano. A cura vem do acolhimento terapêutico e da fé em Deus, que restaura feridas profundas”.
Aplicações e alertas

Especialistas admitem que há usos específicos para os bebês reborns. O psicólogo Carlos Catito, integrante do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), afirma que:

“Em casos de Alzheimer ou luto, podem oferecer conforto temporário. O problema surge quando substituem relações reais, criando uma fantasia sem conflitos.”

A psicóloga Wilma Cristina Gomes (CPPC) também chama atenção para os impactos das redes sociais:

“Há um vazio existencial amplificado. Em alguns casos, as bonecas são usadas para buscar validação por meio de perfis monetizados.”

Desafios legais

A presença crescente desses bonecos também chegou ao meio jurídico. Em Goiás, a advogada Suzana Ferreira, presidente da Comissão de Direito Digital da OAB/Subseção Aparecida de Goiânia, relatou um caso envolvendo a tentativa de regulamentar a “guarda compartilhada” de uma boneca após uma separação. A disputa incluía o acesso a um perfil de Instagram vinculado à reborn, que gerava receita financeira:

“São demandas reais que desafiam o sistema jurídico”, afirmou Ferreira.

No plano legislativo, as reações têm sido variadas. Em Minas Gerais, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) apresentou um projeto para proibir o atendimento de bebês reborn em hospitais públicos, após um episódio em que uma mulher alegou que sua boneca estava com febre.

Na Câmara Municipal de São Paulo, a vereadora Sonaira Fernandes (PL) propôs proibir esse tipo de atendimento na rede pública:

“Isso tem que ter um limite! Bebês de mentirinha não podem ocupar leitos de hospital e aborrecer nossos profissionais da saúde. Pelo amor de Deus, né?”, declarou em suas redes sociais.

O deputado estadual Rodrigo Amorim (União-RJ) apresentou o PL 5357/2025, que prevê atendimento psicológico para adultos com vínculos excessivos a bebê reborn: “O Estado deve oferecer suporte, não apenas regular”, argumentou o parlamentar.

Por outro lado, no Rio de Janeiro, a Câmara Municipal da capital fluminense aprovou a criação do “Dia da Cegonha Reborn”, celebrado em 4 de setembro.

A dimensão pública e o mercado

Celebridades também contribuíram para a visibilidade do tema. A influenciadora Maíra Cardi, que enfrentou um aborto espontâneo em 2023, compartilhou fotos com duas bonecas reborn, relatando o gesto como parte do processo de superação. A atriz Karina Bacchi também já mencionou o uso das bonecas em seu cotidiano, gerando debates nas redes sobre terapia e escapismo.

Em entrevista à revista Comunhão, Patrícia Cunha afirmou que “é preciso acolher sem julgar, mas incentivar conexões reais e fé”.

Enquanto isso, o mercado segue aquecido. De acordo com um levantamento informal da Associação Brasileira de Artesãos Reborn (ABAR), as vendas cresceram 40% nos últimos dois anos.